segunda-feira, 6 de junho de 2011

em cada página.

É incrível como podemos viver uma história sozinhos e ainda assim acreditar piamente que alguém a vive connosco. Acho que me esqueci de ir embora naquele dia em que tudo estava mesmo bem. Assim teria saído com a cabeça erguida e com a certeza de uma vitória. Nunca saberás como lamento, não o não ter saído, mas sim o não ter saído victoriosa. É inacreditável a forma como a nossa mente nos trama e nos envolve em mentiras. Ou entao somos nós que a envolvemos em mentiras, nas quais acabamos por acreditar. Afinal de contas, tudo é possível. Tudo aquilo que um Homem sonha é possivel... ou então não o sonharia. Ou pelo menos não acreditaria nesse sonho. É fabulosa a capacidade que o nosso ego tem de nos fazer achar que estamos no caminho certo para que façamos o que ele deseja. E é ingreme a descoberta que afinal o ego nada mais é que alguma coisa aqui dentro que nos move e nos mente, e nos faz acreditar em nós quando em nós, nada há para acreditar. E cada passo que ele nos faz julgar como certo é uma maratona no sentido oposto. Acabei de escrever o livro, e li-o. Em cada página falava apenas de um eu que vivia em funçao de um tu... que em cinco mil linhas, apenas duas escreveu. É nestas alturas que me pergunto porque é que as canetas nunca (me) falham. Porque é que nunca me dou ao trabalho de olhar para o que escrevo antes de o ter acabado. Porque é que nunca releio para corrigir os erros e repetições. Teria sido tudo tão diferente! Ou se calhar até não. Talvez até tivesse sido tudo tão igual! Talvez tenha estado cega todos estes anos. Não via. Eu já sabia que não via, porém achava que tinha sido a tua luz a cegar-me. Hoje sei que apenas me roubaste o candeeiro para que de noite, quando eu escrevo, não visse tudo o que já estava mais que dito e mais que feito e repetisse com avidez cada palavra e cada beijo e cada toque. Roubaste-me o candeeiro para que eu não visse que aquelas folhas já estavam demasiado amarelas para serem publicadas. Achava que cada segundo contigo era diferente do outro e por isso eu não me apercebia que já havia feito aquilo, num desses muitos momentos. Hoje sei que cada minuto foi igual a outro minuto, que por sua vez foi uma cópia de muitos outros minutos. Diferentes foram só aqueles em que entrámos os dois. Iguais foram todos os outros, a maioria!, em que eu entrava, eu era a protagonista, e eu saía de cena sem perceber que falava com o ar, que sonhava com uma miragem, que desejava um alguém que não existia. Que não existia para mim. És demais para mim? Nao. Simplesmente não és para mim. E hoje é o dia em que parei de escrever esse livro. Começei outro, agora a lápis. Com folhas novas. Foste a primeira palavra que pus no papel. Mas ainda aqui tenho a borracha... e agora vou reler. A cada dia, vou reler. E quando me fartar de te ver ali, escrito, sempre com a mesma letra, sempre com o mesmo tom de cinza, apagarte-ei e o meu livro ficará diferente. Não serás tu o título dele. Não serei eu a única personagem. E aquele ficará perdido naquela gaveta. Quando me sentir incapaz de agir pegarei nele e perceberei que todas as minhas incapacidades nada mais são que um fim de stock. Foi contigo que gastei toda a energia e toda a imaginação. Então ficarei sentada à espera que alguém escreva um livro cuja primeira palavra seja o meu nome. Nesse dia terei uma história mais bonita para contar.
[ñ é da minha autoria :) ]

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